Júnior Baladeira, O Veneno Matuto

Author: Zeremita /


         Uma profusão de cadências, poética e imagens freneticamente dançantes. Foi o que se viu no lançamento do CD, Livro e Cordel do poeta Júnior Baladeira no Kasarão Clube de Ouricuri-PE. Viu-se mais, muito mais, da capoeira ao cangaço, de Neruda a Patativa, de Chico Science a Gonzagão..."Matuto caboclo que estampa num toco a cultura que é daqui", Baladeira vem fazendo um trabalho de experimentação e resgate da cultura popular, mobilizando a rapaziada e confeccionando arte nos mais variados matizes. Seja no compasso inconfundível das batidas do hip hop ou na versificação que retrata a lida do povo sertanejo, nasce um  “Cangaceiro Beat Armorial”, num modo particular e pitoresco de colorir o quadro da cultura popular com espectros da manifestação artística e literária da atmosfera erudita.




Um palmo de prosa:

1-      A inventividade de se fazer arte nasceu com o historiador Nelson Pereira de Sá Júnior, ou já existia lá na meninice um poeta Baladeira rodopiando os calabouços do pensamento?
      Não pensava em ser artista quando criança... Gostava de criar estórias, passava dias e dias imaginando coisas e às vezes minhas divagações duravam semanas... No começo da juventude comecei a arquitetar as coisas, mas sem objetivos, tudo era muito espontâneo... Esse negócio de ser poeta veio de repente, mas nem sei de onde... Vieram surgindo versos na cabeça e pei!!! Fui juntando poesias e montando as letras e quando vi surgiram os versos alados.
2-      Patativa do Assaré imortalizou, “pra toda parte que eu óio, vejo um verso se bulí”. Quais foram, então, os ventos que impulsionaram o voo do passarinho Versos Alados?
      Tudo é parte das obras divinas, se faço alguma coisa e se ele ficou legal pra se ler ou ouvir Deus é o responsável maior por tudo isso... Devo a ele cada inspiração, cada verso, cada pensamento. Porém, ler a poesia de patativa e ouvir os cantadores de viola amplificou as inspirações, admiro muito os cantadores, os versos alados surgem do desejo de se construir algo ao mesmo tempo matuto e universal, algo que possa ser ouvido no pé da serra fumando um cigarro de palha ou mesmo na internet ou em momentos psicodélicos.

 3-      O Livro, homônimo ao Disco, traz em sua página 20 a poesia Mãe, declamada no dia do lançamento das obras, além de outras tantas belas poesias como a já citada Versos Alados. A pergunta é a seguinte, que papel a família brasileira de um modo geral, juntamente com a iniciativa pública e privada, devem desempenhar para o pleno desenvolvimento artístico de seus rebentos em oposição à hostilidade oriunda das problemáticas sociais, drogas, prostituição, violência... ?
     É completamente nítido em minha vida artística a presença marcante de minha família, principalmente minha mãe, certamente a família tem o papel de incentivar, colaborar e apoiar qualquer manifestação do homem enquanto sujeito social, as vezes a família torna-se pouco colaborativa e talvez isso seja o fator que tenha deixado muitos talentos brasileiros fora de evidência. Porém, o poder público é o maior responsável pelo insucesso de artistas...
É responsável por não incentivar as produções artísticas, por deixar de valorizar talentos de casa pra enaltecer grandes “estrelas” da música que muitas vezes fazem suas musicas desvalorizando a sociedade, a mulher e os valores da família...
4-      No sertão do nosso pernambuco se vê uma galera nascente e já praticante da cultura do hip hop. Qual é o papel de Junior Baladeira na difusão dessa cultura e como se deu o primeiro contato com a mesma?
      Conheci o hip hop na TV através do programa Raul Gil, fui para o Recife onde passei 5 meses buscando aprender os fundamentos e repassar para os jovens e crianças aqui...Desde esse tempo buscamos sempre fazer um hip hop de conscientização e baseado nos fundamentos... Já conseguimos muita coisa e em dez anos que estou nessa cultura pudemos “colonizar” o Sertão com o hip hop... Sempre pregando a paz, a harmonia, a união e o respeito, ensinamentos básicos que pude aprender com a organização da qual faço parte que é a Zulu Nation... Desempenhamos nesse tempo um trabalho de mesclagem dos elementos regionais dentro do hip hop para que os jovens e crianças pudessem não só conhecer o hip hop, mas também estar lado a lado das suas raízes... Ainda buscamos fazer frente e dar uma força a galera nova do hip hop, seja com um material, uma idéia, uma oficina ou até mesmo um convite pra participar de um evento... Cada pequena coisa gera uma ação legal.
5-      Quais foram as influencias para a compilação do disco, musical e poeticamente falando?
      Musical foram muitas, desde o próprio Luiz Gonzaga ao Rapper GOG, passando por Belchior, música clássica, reggae, rock e música regional, a cantoria de viola foi um marco dentro disso tudo... Poeticamente busquei inspiração de Patativa do Assaré a Augusto dos Anjos, passando por Jessier Quirino, Chico Pedrosa, Laércio Lima e Sergio Vaz, foram muitos grandes artistas que ouvi e li... Não os caberia aqui...
6-       “Evolução culturalmente mental será que um dia engole o descaso social?”
      Se pensarmos diferente, agirmos diferente, quisermos diferente, certamente vamos gerar uma realidade social diferente.
7-      Além da música e literatura, em que veios artísticos navega o poeta Baladeira e em quais projetos está hoje engajado?
      A dança ainda é minha escola primária, através dela abri minha mente pra outros universos... Gosto de pesquisar as coisas e de tudo que pesquiso busco fazer algo semelhante, é como um “Test Drive”, realizo pesquisar e ações com a música, dança, literatura e teatro, simpatizo com a fotografia e o cinema, mas por enquanto não me atrevi nessas áreas.
8-      A fundação da Cia de Dança Popular de Ouricuri resgata performances quase extintas das danças regionais. Como funciona esse projeto e quando se deu a introdução da dança como apêndice corpóreo nas apresentações de Junior Baladeira?
     Como disse, a dança foi a introdução desse processo, a Cia de Dança Popular é um grupo independente que conta com o apoio único da ONG CAPACIT que nos sede o espaço pra ensaios...mantém atividades de maneira ainda tímida por ser um grupo que exige muito aperfeiçoamento e seus membros na maioria serem trabalhadores no comércio, estando a mercê do tempo escasso e da diária luta dura...a Cia Popular busca trazer pra o povo as danças regionais brasileiras de uma maneira tradicional e ao mesmo tempo inovadora...é fruto de muita pesquisa e aprimoramento.
9-      Quem quiser uma amostra da arte de Junior Baladeira pode escutar gratuitamente no sitio www.myspace.com/juniorbaladeira. E quem estiver interessado em adquirir toda a obra, CD, Livro e Cordel?
     Para adquirir o material pode entrar em contato comigo pelo fone: (87) 99883602 ou pelo e mail : juniorbaladeira@yahoo.com.br e articulamos uma maneira de colocá-lo em contato com a obra.

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